terça-feira, 15 de abril de 2008

Ariane Mnouchkine

Socorro
Teatro, socorre-me!
Durmo, acorda-me
Estou perdido na escuridão, guia-me, pelo menos rumo a uma vela
Estou com preguiça, dá-me vergonha
Estou cansado, ergue-me
Estou indiferente, bate-me
Continuo indiferente, quebra-me a cara
Tenho medo, dá-me coragem
Sou ignorante, educa-me
Sou monstruoso, humaniza-me
Sou pretensioso, mata-me de rir
Sou cínico, desmascara-me
Sou estúpido, transforma-me
Sou mau, pune-me
Sou dominante e cruel, combate-me
Sou pedante, zomba de mim
Sou vulgar, educa-me
Sou muda, desenlaça-me
Não sonho mais, chama-me de fraco e imbecil
Esqueci, lança sobre mim a Memória
Sinto-me velha e enrijecida, faz saltar a Infância Estou pesado, dá-me a Música
Estou triste, vá buscar a alegria
Estou surda, na tempestade faz urrar a Dor
Estou agitado, faz erguer-se a Sabedoria
Estou fraco, acende a Amizade
Estou cego, convoca todas as Luzes
Estou submetida à Feiúra, dá passagem à Beleza conquistadora
Fui recrutado pelo Ódio, dá todas as forças ao Amor.



Mensagem de Ariane Mnouchkine lida na Unesco, na quinta-feira 31 de março de 2005, por ocasião do Dia Mundial do Teatro.

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