sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Hoje é Lispector


"Não acusar-me. Buscar a base do egoísmo: tudo o que no sou não pode me interessar, há impossibilidade de ser além do que se é - no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio, sou mais do que eu quase normalmente -; tenho um corpo e tudo o que eu fizer é continuação do meu começo: se a civilização dos Maias mo me interessa é porque nada tenho dentro de mim que se possa unir aos seus baixos-relevos; aceito tudo o que vem de mim porque no tenho conhecimento das causas e é possível que esteja pisando no vital sem saber; é essa a minha maior humildade, adivinha ela.

...a única verdade é que vivo.Sinceramente eu vivo.Quem sou? Bem, isso já é demais. Lembro-me de um estudo cromático de Bach e perco a inteligência. Ele é frio e puro como gelo, no entanto pode-se dormir sobre ele. Perco a conciencia, mas não importa, encontro a maior serenidade na alucinação. é curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer.
Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Ou pelo menos o que me faz agir não é o que eu sinto mas o que eu digo. Sinto quem sou e a impressão está alojada na parte alta do cérebro, nos lábio - na língua principalmente -, na superficie dos braços e também
correndo dentro, bem dentro do meu corpo, mas onde, onde mesmo eu no sei dizer. O gosto é cinzento, um pouco azulado, e move-se como gelatina, vagarosamente. Ás vezes torna-se agudo e me fere, chocando-se comigo. Muito bem, agora pensar em céu azul, por exemplo. Mas sobre tudo donde vem essa certeza de estar vivendo? No, no passo bem. Pois ninguem se faz essas perguntas, e eu...
Mas é que basta silenciar para só enxergar, abaixo de todas as realidade, a única irredutível, a da existência..."

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Margarida Certa


Eu sempre entro em conflito quando preciso escolher o que fazer. Como a faculdade por exemplo... Ano passado fiquei quase louca, não sabia que curso fazer, via todos da minha sala do colegial falando sobre provas, vestibular, futuro, mercado e etc... E eu, nada. Optei então por jornalismo. Fiz um semestre e tal, ai me dei conta do que estava de baixo do meu nariz.
A fotografia estava lá quando olhei no espelho, alias, está em tudo que eu vejo.
Então decidi, é isso que vou ser e fazer... viver.
Lembrei de um pedaço do famoso "use filtro solar" de Pedro Bial... diz assim:

"...Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida.
As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam,
aos vinte e dois, o que queriam fazer da vida.
Alguns dos quarentões mais interessantes que conheço ainda não sabem...

...Não se preocupe com o futuro.
Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que pré-ocupação
é tão eficaz quanto mascar chiclete..."


Tomei um chá de bem-estar.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Feia

Antes era como se eu mesma tivesse me apunhalando bem no peito. A dor? Suportável mas cruel, ardida... Quando tento lembrar a reprodução é de arrepio na espinha.

Quanto mais eu vivia mais dor sentia, e nada que eu pensasse fazia parar...As palavras entravando por ouvido a fora e iam rasgando o que achassem pelo caminho, desfazendo ilusões, mimos e benditos.

Eu agora já sei quando me da vontade de escrever...Não é por dom nem nada parecido, eu só quero ter alguém, alguma coisa, com a qual eu possa dizer o que quiser, sem pensar ou pensando muito, sem sentido ou sentindo muito. E não existirá resposta atravessada, e nem ego pra rebater, nem nada. São só algumas letras coladas na tela do seu computador.

Eu estava apenas afim de ouvir uma musica, um jazz gostoso, pra tentar lembrar de tudo Tim-tim por Tim-tim do que havia ocorrido no dia seguinte. Enquanto desembaraçava os nós no meu fone de ouvido, um cara, de bengala passou na minha frente e me disse:

_ Você é muito feia... é porque você é muito feia que você ta ai sozinha.

E saio com um suposto sorriso na cara.

Talvez eu seja mesmo muito feia, mas não reconhecendo que seja nada exterior, considero o tal homem de bengala um tradutor de sentimentos e/ou pensamentos...Alguém que leu a alma...

e eu deixei...